quarta-feira, junho 12, 2013

O cristianismo em retirada?

[Grão de Trigo, Janeiro 2013, p. 2]

O anuário The World In 2013, editado pela revista britânica The Economist, tem um artigo de Edward Lucas (p. 24) que traça um cenário pouco promissor para o cristianismo em 2013.

Segundo este autor, o novo ano tornará mais visível a crise e a perda de influência que afetam sobretudo as igrejas históricas. A tentativa destas de resistirem à hegemonia dos valores seculares, que ameaçam tornar o cristianismo numa subcultura em luta pela sobrevivência no mundo ocidental, será em grande medida uma batalha perdida.

A Comunhão Anglicana é indicada por Lucas como exemplar desta situação, dilacerada por uma resistência a tendências avassaladoras do secularismo, como a «cruzada» a favor do «casamento» homossexual, e a falta de rumo causada por um liberalismo teológico representado pelo arcebispo de Cantuária cessante, Rowan Williams. A rutura das igrejas africanas da Comunhão é muito provável, como já aconteceu com algumas comunidades episcopais na América.

Mesmo na América do Norte, onde a prática religiosa cristã sempre foi mais intensa e numerosa do que na Europa, as igrejas estão estagnadas e o secularismo progride entre os mais jovens e mais instruídos. Embora Lucas não o diga explicitamente, as igrejas pentecostais e neopentecostais, outrora tão dinâmicas no Ocidente, parecem também ter atingido um limite de crescimento.

A Igreja Católica Romana, acossada por outros males e escândalos, e apesar de gozar exteriormente de uma disciplina maior, não está melhor.

Por outro lado, as igrejas históricas no Médio Oriente (Palestina, Egito, Síria e Iraque), e um pouco por todo o mundo islâmico, parecem cercadas por maiorias hostis, levando muitos cristãos a sair desses países.

Mas é este o retrato de todo o cristianismo em 2013? Não. A exceção parece ser um conjunto de igrejas protestantes do Extremo Oriente (Coreia do Sul, China e Taiwan), que estão a crescer em número e influência numa das regiões mais populosas do Planeta, mantendo a esperança de que o cristianismo possa continuar a expandir-se, mesmo que de forma localizada, num mundo em que a população global ainda está a crescer.

DESAFIO… Perante este panorama, com todos os riscos de haver erros de perceção neste retrato da realidade, o que devem pensar e fazer os cristãos individuais das igrejas concretas (como a nossa Lisbonense)? Estamos na ampla parte do Mundo onde o cristianismo parece em retirada em termos de número de crentes e de influência pública. Inverter isso depende de nós em princípio, mas dificilmente na prática. Se o cristianismo se vier a parecer com uma subcultura minoritária, que isso não nos amedronte – já foi essa a condição da Igreja apostólica. Não temos de ver nisso nem o nosso «destino» nem uma inevitabilidade colorida de castigo divino. Temos é de nos fortalecer interiormente e no testemunho – com cultura bíblica, prática eclesial e adesão ao Evangelho.